UNIÃO IBÉRICA (4)
(*) António Mogadouro
Carta ao Coronel Mendonça Júnior:
Tenho lido com agrado os seus artigos sobre a União Ibérica. Em meu entender essa «UNIÃO» já está em prática, há muito tempo, principalmente nas zonas fronteiriças. Sobretudo na zona do Nordeste Transmontano de onde sou oriundo. Uma vez que não dispõe de estruturas porque é uma zona pobre. Então, o refúgio é ir a Espanha que se encontra ali ao lado.
As compras são efectuadas no lado de lá. Vive-se mais com os espanhois e dos espanhois. Há dificuldades de vender os produtos agrícolas em Portugal… são os espanhois que compram. A zona do Nordeste produz uva, azeitona, cortiça e cereais. Como é que o agricultor pode viver? Então os espanhois compram, a um preço superior, e levam tudo.
A região é formada pelo Concelho de Mogadouro que tem, mais ou menos 11.300 habitantes e mais quatro concelhos: Moncorvo 9.900, Freixo de Espada à Cinta 4.200, Miranda do Douro 8.100 e Vimioso 5.300.
Distâncias de Mogadouro: a Bragança são 80 km; a Macedo de Cavaleiros são 50 km: a Mirandela são 86 km; a Chaves são 150 km; ao Porto são 274 km; a Lisboa são 570 km… ou seja estamos esquecidos. São estas, entre outras, as localidades onde se encontram hospitais onde se podem operar as pessoas, pois que nos cinco concelhos enumerados atrás, apenas existem Centros de Saúde em três dos citados. Numa doença, não há possibilidade de ir ao médico, sem se recorrer ao lado de lá, para ser logo atendido. Se reparar os hospitais encontram-se assinalados com um circulo no mapa que junto.
Hospitais não existem na faixa do rio Sabor até ao Douro. Creio que tinhamos direito a um hospital para lá do Sabor. Portanto, temos Espanha com melhores vias de comunicação, e mais perto… São eles que nos valem.
Veja que bem servidos estamos. Muito mais lacunas que Lisboa poderia ver com outros olhos… não há votos que cheguem para fazer alguma coisa pela região.
Há um programa da União Europeia, para o desenvolvimento fronteiriço, chamado INTERREG. A Espanha aproveita todo esse dinheiro para desenvolver toda a sua região fronteiriça e Portugal devolve o dinheiro por não apresentar projectos. A diferença é essa.
Para nós, a UNIÃO IBÉRICA já funciona.
Acredite meu Caro Coronel que casos como o que descrevi sobre a minha Terra já são muitos. Acabo de receber um artigo que li no Boletim Informativo do Clube de Campismo do Conselho de Almada datado de Junho de 2005, da autoria de José Chinó, com o seguinte pedido:
«Reenviem este artigo para quantos amigos e conhecidos tenham, para que sejamos cidadãos informados e denunciantes deste SISTEMA NACIONAL DE SAUDE, completamente PODRE.
O artigo consta do seguinte:
Esse senhor acordou um dia com um problema no olho direito. Pareceu-lhe grave. Deslocou-se ao Hospital Garcia da Orta, em Almada (16 Abril 2005). Diagnóstico: deslocamento da retina. Só poderá recuperar com operação. Segundo a opinião do oftalmologista a situação é grave e urgente. Mas a lista de espera é muito grande: talvez 6 meses a um ano.
O nosso amigo ficou abismado, pois uma situação destas requer internamento imediato. Qual a solução que veio da boca do médico? A existência de um bom especialista em Setúbal que ele próprio conhecia. Lá vai o homem à consulta do referido especialista que lhe confirma o diagnóstico dizendo: tem de ser operado; eu que levo 3.000 euros para operar, mais 3.000 para a clínica e assistentes; total 6.000 euros (1.200 contos); por esta consulta levo 60 euros.
Por achar este orçamento brutal, o nosso amigo, resolve marcar consulta em Badajoz. Devido à urgência do caso, marcam-lhe nova consulta para o dia seguinte. É atendido meia hora depois de ter chegado. Confirmam-lhe o diagnóstico. O especialista diz não haver tempo a perder, não tem dias livres, por isso vai ter de adiar operações menos urgentes para poder encaixar a dele.
Volta passado 10 minutos, com a data da operação: AMANHÃ ÁS 17 HORAS. São 1.200 euros (240 contos). Custo da consulta: 35 euros. A operação foi um êxito. Nos 30 dias seguintes e sempre que se deslocou à Clínica, não pagou mais nada».
COMENTÁRIO: Este país não tem salvação possível. E eu não sou daqueles que gostaria de ser espanhol!!!
(*) Ex-combatente no Ultramar, nos Dragões de Luanda; actualmente emigrante na Bélgica.
1 Comments:
Bom! Que comentários estranhos andam por aqui? Pois gostaria de fazer um pequeno comentário sério ao seu post.
De facto parece que a união ibérica já existe. Agora o problema é que não existe de direito. Continuamos a comprar bens e serviços aos espanhóis, cada vez em maior quantidade e os impostos que eles pagam são gastos integralmente em Espanha. Nas escolas espanholas, nos hospitais espanhois, nas estradas de espanha, na segurança social espanhola. O nosso escasso dinheiro também serve cada vez mais o estado social (cada vez que compramos um bem made in spain) espanhol e não tem retorno. Cada vez que eu gasto 100 € no hipermercado 50€ (quase de certeza) vão direitinhos para espanha, dos quais 5€ vão para o fisco espanhol. O inverso não acontece. Não havendo integração política estamos cada vez mais "lixados". Contribuimos e não recebemos. Mas não é por esse motivo que eu me sinto Iberista. Sou também por razões culturais. Acredito que ser iberista é na sua essência mais patriótico do que ser nacionalista. Amo a língua portuguesa. Sinto um enorme fascínio pelo galego. Gosto de falar e ler espanhol (castelhano). Sou apaixonado pela música tradicional galega e transmontana. Sinto que a história dos povos peninsulares é comum. Li com igual paixão Villa Matas e Saramago. Camões e Cervantes. Sou fã incondicional da banda desenhada espanhola. Adoro a Andaluzia e o Algarve (Córdova e Silves) e o nosso passado comum Al Andaluz. Sinto, por último, que só isto é maior patriotismo de que cantar um hino que nos manda marchar contra canhões ou do gritar histericamente por uma equipa de futebol (fenómeno de massas contemporâneo que visa substituir a guerra).
Um abraço e un saludo
Adalberto Barreto
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