UNIÃO IBÉRICA (3)
MJ – «Discutir, seriamente, a hipótese Iberista seria, sempre, salutar para o País». Assim opinou o General António Ramalho Eanes, em carta a mim dirigida em 14/03/2003.
Pelo meu lado vou fazendo o que posso. Para já, julgo conveniente esclarecer, mais uma vez, que esta tese tem por fim discutir a formação de uma Federação das regiões da Península Ibérica que assim o decidirem. Nesse sentido vou seleccionando, em quatro grupos e com a maior isenção, trechos da Comunicação Social e opiniões escritas que me são dirigidas. Há quem julgue tratar-se de um tipo de “provocação de mal estar” entre as Regiões e os Estados em que estão integradas. Nada disso. É sim, em princípio, a chamada a um debate democrático, com vista a uma solução contra as independências, que já se desenham e as que subterraneamente estão em incubação. O que seria o prelúdio, do passado destino imparável da História – chacinas e destruições – de consequências debilitantes do multissecular princípio: «a união faz a força».
Dir-se-á que a tese deste movimento é mais uma tentativa de conciliação entre os povos ibéricos, que cresceram da mesma raiz, continuarem orgulhosos da sua identidade e da sua História Nacional mas que agora estariam decididos a ultrapassar as antigas discórdias e a forjar um futuro comum».
VISÃO PORTUGUESA:
MJ – Em termos de um “ponto de situação” sobre a tese da UI, constato:
– Uma minoria, que receia o “papão do espanhol”. Outros, em tom menos timoratos, interrogam-se sobre a sua conveniência numa União Europeia, de que já somos membros, que acreditam irá evoluir para uma federação europeia. Mas ficam perplexos e confusos com a existência, dos estados federados da Austria, Bélgica e Alemanha, confederação Suiça e até a da Grã-Bretanha. Há ainda, os que temem a perda da nossa soberania mas que aceitam a “perda imposta por Bruxelas”, justificando-a pelos ganhos políticos e financeiros que daí advêm. Finalmente há um quarto grupo, onde alguns hesitam em dar a cara publicamente, mas já se encontram a poucos passos dos que desassombradamente defendem esta tese.
– Uma maioria, preocupada com os seus problemas de sobrevivência, que não demonstra qualquer interesse em debater a tese da União Ibérica mas que comenta, exaustivamente, que “tudo está mal no nosso querido país”. Desinteresse esse, de total ausência de “auto estima”, indo ao ponto de se reflectir em manifestações de caracter nacional. O que sucedeu, DN 11/06/03, sob o título de «Bandeira esquecida», referindo-se ao «Dia de Portugal de Camões e das Comunidades» e que transcrevemos na íntegra: «GALEGO, Em dia de Portugal, não havia bandeiras nacionais no desfile da Avenida. O único manifestante com um pavilhão verde-rubro trazia-o vestido. Era um galego, que defende a união política entre a Galiza e Portugal. Esta actual realidade esconde da “luz da ribalta” o «Orgulho de ser Português» que temos que reavivar, combatendo o “lusopessimismo” tão oportunamente alertado por Durão Barroso: «o exagero de um conceito que alguém faz de si próprio! soberba, vaidade, altivez, pundonor, dignidade e brio».
DE REPÚDIO:
Pereira Coutinho, DN 24/02/03: «Existem cerca de 300 empresas portuguesas em Espanha e cerca de 3.000 empresas espanholas em Portugal, as quais são responsáveis pelo crescente domínio económico e financeiro espanhol no nosso país. Portugal, não pode nem deve colaborar com a estratégia hegemónica de Espanha. Portugal, tem de considerar a Espanha como um adversário e não como um parceiro económico ou estratégico. Portugal, não tem interesse em ser aliado da sua vizinha. Portugal, como país euro-atlântico, deve virar-se para o mar e não para Espanha, onde pode ser bloqueado e tratado com mais uma região espanhola».
Alberto João Jardim, DN 09/06/03: Quando perguntado, «O seu desejo é transformar a Madeira em estado federado, não é verdade?». Ao que, no “momento actual”, Alberto João respondeu: «o rótulo não me preocupa nada, até porque nalgumas matérias as regiões autónomas portuguesas têm mais poderes do que os estados federados».
MJ – No entanto há quem considere esta resposta não coerente com outras declarações de “veladas ameaças” tais como: «(...) de só apoiar para Belém quem prometer referendar a Constituição que ponha fim ao contencioso das autonomias»; ou a exigência de um candidato da Madeira em lugar elegível no Parlamento Europeu. Alberto João não nos surpreende quando revela as suas insatisfações que o obrigam a ter que coroar as suas presidências de um modo extra-
-rotineiro. Presidências essas que têm sido acarinhadas pelo povo, transformando-o numa espécie de semi-deus – a Madeira de hoje é obra sua, ele é o criador. Insatisfações essas que parecem atormenta-lo como conseguir algo como uma “descolonização”. Será? E a seguir? Jardim, tem vindo a refutar, vigorosamente, a independência da Madeira. Resta-nos esperar para ver se o “momento actual” se mantêm.
DE INDEPENDÊNCIA:
MJ – Contrariamente ao que sucede nos Açores onde há uma corrente, parece ser minoritária, que preconiza a independência. Corrente essa que poderá ser tomada a sério em leituras “nas entrelinhas”. Senão vejamos: Na sessão solene que assinalou o Dia dos Açores, o presidente do Executivo Regional, Carlos César, fez uma série de críticas: «dirigismo arrogante de Lisboa»; denunciou a «presença do ministro da presidência; «as ofensas legislativas e orçamentais de Lisboa egocêntrica» e os «lapsos a que os Açores têm sido votados».
DE INTERESSE ACADÉMICO:
Martins da Cruz, ex-Ministro dos Negócios Estrangeiros, num almoço na Câmara de Comércio e Indústria Luso Espanhola, DN 24/02/03: «Os investimentos espanhóis em Portugal são um desafio aos empresários portugueses para investirem em Espanha e não uma invasão».
Eduardo Lourenço, pensador por excelência de formação filosófica, em entrevista ao “DN” 22/05/03, «( ) e o Portugal político e económico do século XXI, que caminhos?» respondeu: «Estamos na Ibéria. Tenho a impressão que os portugueses ainda não realizaram suficientemente até que ponto, desta vez, não podemos escapar ao olhar de Espanha, mas seria necessário que Espanha também não escapasse ao nosso olhar».
Jorge Sampaio, Presidente da República de Portugal, num brinde ao Príncipe das Astúrias, DN 03/06/03: «Vossa Alteza é hoje a imagem da Espanha moderna, inovadora, vibrante e multifacetada que nos habituámos a admirar».
MJ – No Dia Dos Açores, em Ponta Delgada, Jorge Sampaio, foi o primeiro chefe de Estado a participar no dia da autonomia açoriana. Que admitiu poder evoluir. Nessa ocasião, o chefe de Estado, DN 10/06/03, disse que a «autonomia tem funcionado com toda a normalidade». Porém diz-se haver sonhos de retornados, de anteriores emigrações para Oeste, que defendem uma integração nos EUA… o que a União Ibérica procura evitar.
Jaime Ramos, secretário geral do PSD/M, quando se despediu do Chão da Lagoa, 28/07/03: «Assegurou que o povo da Madeira está preparado para tudo, que a revisão constitucional seria um passo em frente na conquista da libertação». Quer uma autonomia, num regime federal, onde todas as decisões serão tomadas.
DE CONCORDÂNCIA:
Victor Costa, empresário de informática e artes gráficas, “O Dia” 28/02/03: «Em vez de criticarmos os tais “maus ventos” deveríamos fazer um bom casamento através de uma federação de estados formados pelas actuais regiões autónomas portuguesas e espanholas.
MJ: As regiões portuguesas unidas seriam o maior estado federado, em área e população o que representaria mais votos, em temos democráticos.
João Meira, empresário de Seguros/Corretagem, “O Dia” 23/04/03: «A ideia nada tem contra o nosso Patriotismo. Considerando que Portugal e Espanha estão integrados na UE, justifica-se plenamente no sentido de um regime, de uma Federação de Estados (por exemplo: Alemanha, Austria, Austrália, ... para mencionar somente alguns) o que virá fortalecer a posição da Península Ibérica, perante exactamente a UE, cada vez mais ampliada e favorecendo a porta aberta da Europa para o Oceano Atlântico e países adjacentes, de importância vital para o Futuro. E porque é do Futuro que interessa tomar decisões – não permitindo que os Velhos do Restelo teimem em maltratar a nossa história – é que Quem de Direito tem a obrigação de estudar, elaborar e levar avante tão importante como histórica decisão».
VISÃO ESPANHOLA:
MJ – Em termos de “ponto de situação”: já recebi, até hoje e com início do mês de Março de 2004 várias cartas das regiões autónomas espanholas: do Presidente Manuel Fraga Iribarne da Xunta de Galicia e uma de La Secretaria Particular Del Lehendakari Del Gobierno Vasco (Juan José Ibarretxe). Todas acusando a recepção dos artigos por mim publicados: «mi felicitación... se lo agradezco mucho» nas primeiras e « testimoniarle su consideración más distinguida» na última.
Juan Carlos, Rei de Espanha, acentuou, no acto da escritura do protocolo de cooperação do COTEX-Portugal com organismo congénere de Espanha, “DN” 03/05/03: «Com este acto abrimos formalmente uma nova via de cooperação entre os tecidos produtivos de Espanha e Portugal».
Gobierno Vasco, 29/05/03, «Saluda al Sr. José Maria de Mendonça Júnior, y le agradece las fotocopias de sus artículos publicados en la prensa que ha remitido al Lehendakari».
No “Lehendakari” basco, Juan José Ibarretxe confirmou ontem, segundo o DN 24/07/03, «que o seu projecto de estado livre associado será debatido publicamente. Está também confirmado que o governo basco convocará um referendo de autodeterminação e assumirá todos os poderes correspondentes. A intenção do Governo Ibarretxe é reservar para si a prática da totalidade dos poderes do Estado, excepto da Defesa e parcialmente, os da Política Externa...mas não apresenta aparentemente uma separação total da Espanha... A reacção das forças espanholas ao texto foi demolidora. O ex-primeiro-ministro espanhol, José Maria Aznar, disse que o projecto «é um disparate» e que «a possibilidade de que prospere é zero”».
MJ – Em linguagem realística aquele citado projecto, de Estado Livre Associado com Espanha, é, sem tirar nem pôr, o que define uma Federação
Miquel Adrover, segundo testemunho de Mário Rui Simões Rodrigues, “O Dia” 30/05/03: «Acho que nós, catalães estamos bem situados para falar, desde dentro, do que acontece no Estado espanhol, como ele se conduz perante as comunidades autónomas de fala não espanhola. «De Ponent, ni bon vent , ni bon casament. “Poente” diz-se, na nossa língua, “Ponent”. Nós temos a Espanha ao poente».
MJ – Como acabamos de citar, da Catalunha chegam até nós “maus ventos”, curiosamente em termos idênticos aos da gíria de alguns temerosos do nosso Zé Povo, entre a região do Leste de Espanha (Catalunha) e a seu Oeste.
A União Ibérica continuará a defender a sua tese… a sua concretização? Será realizada não sabe é quando.
(*) Coronel de Cavalaria
Actualizado de uma publicação no Jornal “O Dia” em 01/08/2003.
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